Deportados por causa de tatuagem: desenhos viram alvos de Trump
O governo dos Estados Unidos está associando tatuagem nos corpos de imigrantes, com ligação a um grupo de criminosos da Venezuela chamado “Tren de Aragua”. O jornal The Guardian foi atrás das histórias de algumas pessoas presas e expulsas do país, e agora nós vamos conhecer as tattoos que tinham relação a religiosidade e família que renderam o veredito de culpados a pessoas que fizeram desenhos inocentes na pele. Estas são suas histórias.
Franco Jose Caraballo Tiapa
Franco Jose Caraballo Tiapa tem 26 anos e algumas tatuagens: uma rosa, um leão e uma no pescoço de uma navalha pra simbolizar a sua profissão de barbeiro, e outra tattoo faz uma homenagem a filha mais velha de 4 anos Shalome A, tatuada em lettering em seu peito, incluindo um relógio de bolso mostrando a hora do nascimento dela. O advogado que representa Franco, diz que ele é somente uma pessoa que gosta de tatuagens, explica Martin Rosenow da Florida. Algumas pessoas já foram mandadas embora pra Venezuela por causa da política mais dura de Trump.

O rapaz que tem dois filhos, foi preso pelo ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) no Estado de Dallas, sob alegação de que algumas de suas tatuagens tinham ligação com a gangue Tren de Aragua. No relatório feito pelo policial que fez a prisão e foi revisado pelo The Guardian diz: “O suspeito foi identificado como membro ativo da gangue”. O advogado diz que eles não explicam como chegaram a essa conclusão. O documento ainda diz que ele tem “várias tatuagens e nenhum registro criminal até agora”
Rosenow rejeita veementemente a ideia de que alguma tatuagem do seu cliente remeta a gangues, e diz mais uma vez que ele é inocente. Ele consultou especialistas em segurança da Venezuela que afirmaram que não tem nenhum símbolo ligado a gangues. “Não é como se fossem os Central American MS-13 onde as tatuagens tem papel importante na gangue, até pra mostrar status e hierarquia dos membros. Os Tren de Aragua não tem símbolos que os represente, se você olhar fotos de membros atuais presos da gangue, vai perceber que muitos deles estão sem camiseta e sequer tem tatuagens”, afirma Martin.

“Eu me sinto enojado com isso tudo. Eu me sinto angustiado junto com essas pessoas. Eu fico triste em como tudo isso tem um significado ruim. Como Americano, pra mim é uma completa desgraça em como ele pode violar os direitos humanos tão flagrantemente em nível internacional”, finaliza Rosenow.
Caraballo, que é do estado venezuelano de Bolívar e entrou nos EUA pela fronteira sul em Outubro de 2023, é um dos vários venezuelanos que as autoridades de imigração parecem ter identificado como membros de gangues com base em pouco mais do que sua nacionalidade e suas tatuagens. Eu nem vou escrever aqui a palavra que eu acho que devo escrever do que eu acho que isso seja…
Daniel Alberto Lozano Camargo
Daniel tem 20 anos de idade e é um Venezuelano de Maracaibo que mora em Houston, Texas, e trabalha como lavador de carros mostrando seu ofício em postagens de publicidade no Facebook.

Sua namorada, uma cidadã americana chamada Leslie Aranda, disse que ele foi preso em Novembro do ano passado após ser contatado por um suposto cliente na rede social. Ela não tem notícias dele desde quando Donald Trump invocou amplos poderes de guerra, chamados de Lei de Inimigos Estrangeiros (Alien Enemies Act), para deportar pessoas consideradas uma ameaça, como membros do Tren de Aragua, que no mês passado foi nomeada uma organização terrorista estrangeira.
Assim como vários outros venezuelanos que foram deportados por causa de tatuagens, Daniel tem um monte delas: ele tem o nome da filha de sua companheira, Danessy, em um dos braços. Uma rosa. O nome de sua sobrinha, Eurimar, com uma coroa sobre a letra E. Mãos em oração no pescoço. O nome do seu pai, Adalberto, e suas iniciais. Daniel também tem a data de seu aniversário com Aranda: 19 de janeiro de 2023. Outra tatuagem diz “King of Myself”.

“Sei que o nome do pai dele é importante para ele porque o pai morreu quando Daniel era jovem. E também sei que ele não gostou muito da tatuagem da rosa porque um amigo que estava treinando para ser tatuador a fez. Daniel ama arte e tatuagens, é por isso que ele as tem.” Desabafa Leslie. “Eles violaram os direitos humanos do meu filho, isso é uma injustiça, ele não pertence a gangue nenhuma!”, explica Daniela, mãe de Daniel.
Neri José Alvarado Borges

Lisbengerth Montilla é irmã de Neri José, e diz que ele também foi deportado por ter sido identidicado como membro de gangue por causa de suas tatuagens. Uma de suas tattoos é a escrita de “Família”, outra diz “Irmãos”, e uma mais significativa é a que ele fez pro seu irmão mais novo que é autista e se chama Neryelson, com uma tatuagem em aquarela.

“Nem todas aquelas pessoas deportadas para El Salvador são criminosas, e nem todos os venezuelanos são pessoas ruins. Nós somos de uma família decente, trabalhadora e íntegra. Nunca tivemos problemas com ninguém.” Termina Montilla.
Francisco Javier García Casique

Sebastián é irmão de outro venezuelano deportado por causa de suas tatuagens, mas que nenhuma delas foi feita em homenagem a gangues. “Ele tem umas rosas em volta de um relógio e a frase “Deus dá as maiores batalhas aos seus melhores guerreiros”, conta Sebastián sobre a tatuagem de Francisco.
Em setembro de 2021, García publicou um vídeo no Instagram de uma tatuagem de um relógio de bolso sendo feita em seu braço direito por um artista no Peru, onde ele morava na época. “Minha tatuagem em homenagem às minhas duas avós que amo e sinto muita falta”, escreveu García.
Franco José Caraballo Tiapa
Rosenow também não viu nenhuma indicação de que seu cliente, que ele disse ter pedido asilo com base em perseguição política após participar de protestos da oposição, estivesse envolvido na gangue venezuelana. Ele disse que as postagens “cafonas” e românticas de Caraballo no Instagram indicavam que ele não era “um membro de gangue cruel”.
O que o Governo de Donald Trump afirma:

A Casa Branca descreveu os venezuelanos deportados para El Salvador como “monstros hediondos” e terroristas, mas ainda não divulgou informações detalhadas sobre suas identidades, muito menos seus supostos crimes. A CBS News publicou uma lista governamental interna dos 238 venezuelanos deportados, que incluía os nomes de todos os homens desta história.
Um alto funcionário da imigração e alfândega, Robert Cerna, admitiu que “muitos“ dos removidos dos EUA sob a Lei de Inimigos Estrangeiros não tinham antecedentes criminais nos EUA, mas, mesmo assim, ele afirmou que eram membros do Tren de Aragua. O fato de essas pessoas não terem antecedentes criminais “é porque eles só estão no país há um curto período de tempo”, disse Cerna.
Fonte: The Guardian